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Eu sei, mas não devia

Posted by Igor Amorim. on 19:14 in , , ,
Eu sei, mas não devia

Marina Colasanti


Eu sei que
a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter
outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está a
trasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mor
tos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser vist
o.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, des
norteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o q
ue fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma. -


Adorei esse texto, retrata muito bem a acomodação do homem na sociedade atual, e como já falei aqui no blog, mudança é uma renúncia, e renúncia dói, por isso nos acomodamos, e andamos devagar para a desacomodação, para a mudança... Nós todos sabemos, que a sociedade só "acorda" quando um caso polêmico, aumentado pela mídia, acontece, e isso é a maior acomodação da sociedade atual, que não deseja a corrupção, mas nunca cogita em deixar de furar uma fila ou roubar no troco, que quer um mundo melhor, mas nunca procura pensar antes de ser ingorante, arrogante, ou até mesmo bater em uma pessoa, que quer a salvação do meio ambiente, mas nunca procura largar o seu luxo que é o que mais prejudica o meio ambiente, é isso a acomodação relatada no texto, que nas entrelinhas do texto, fala para a sociedade despertar. E a sociedade desliga o despertador e volta a dormir, por isso o mundo é assim. Infelizmente!



Obrigado :D

14 Comments


Adorei o texto!
Isso é tão verdade.
Lembrei de uma música dos engenheiros do hawaii..
"Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia"


gostei muito do texto e do blog *-* to seguindo e vou colocar uma parte do texto no meu blog , da uma olhadinha , please. bjbj


A renúncia é um sacrifício beeem chatinho, rsrsrsr.

Caro Igor, muito obrigado pela visita ao Blog Poesia Inconstante, espero que volte mais vezes e opine sempre em nossos posts.
Até a próxima ;)


Quanto mais informação disponível, mas ignorantes e conformistas as pessoas ficam. Triste verdade.

Acessa la os meus blogs, quando puder:

http://manoporco.blogspot.com/

http://lobo-frontal.blogspot.com/


Adoreei o Blog
e o texto vou seguir **.*
Beijo


Seguindo aqui já, e vou comentar todos os episódios de Roommates, quero ver seus comentários lá.
Abraço.


Aula de português em ação.


Este comentário foi removido pelo autor.

Nossa, eu simplesmente amey aki, velho tah muito bom mesmo, concordo com o post, eu mesmo sou um acostumado da vidah, um sedentario de carteirinha XD!!!!

vou favoritar aqui, pois quero voltar mais vezes [ususus]

bye bye
o/acena*
u.u

[http://breakinglies.blogspot.com]


A gente se acostuma a entrar na net e ver o blog de Igor, e ver os posts e comentar!
Já estou pegando o jeito =D

Vamos lá.. ( Críticaa ao texto ) =D
o texto está ótimo, porém o início do mesmo deveria ser outro ( " a gente se acostuma, mas não devia " ), pois existe uma infinidade de coisa que nós poderiamos nos acostumar que podem nos trazer benefícios.
Se tivermos o costume de deixar de lado alguns costumes que não servem para nada, estaríamos nos acostumando com esse costume!
Entendeu?! =O
E se também nos acostumamos com a mudança...
também estaríamos nos acostumando!
E " et caetera, et caetera, et caetera " ( etc em Latin )


Este comentário foi removido pelo autor.

Respota ao comentário de Italo Franklin:
1º O texto, quem fez não foi eu. Tanto que tem a autora.
2º Esse "Eu sei, mas não devia" é uma crítica ao que a gente faz, sabendo que é errado e continua fazendo..
3º se vc disse que podemos nos acostumar, e em algumas coisas nos trazer beneficios, por que o nome do texto teria de ser a gente se acostuma, mas não devia.. e eu concordo, o ato de nos acostumar-mos com o bem nos traz beneficios, mas o texto relata a má acomodação..
4º deixar de lado certo maus costumes, mesmo que no acostumamos com esse costume, será uma coisa boa.. e falo mais uma vez, o texto realça os maus costumes, o que é bom sempre é bom..
5º se a mudança for uma coisa boa, e nos acostumados com ela, seria uma coisa boa, mas o mundo muda pra pior, e isso é o ruim, se nos acostumamos com a boa mudança. seria ótimo

entendeu ? ;D
mas, agradeço as críticas.


OBS: eo sei que o texto não é seo, tem até no livro de português =ºD ( Hehe )
Pois bem... ( respectivamente )
1º:eo sei que o texto não é seo, tem até no livro de português =ºD ( Hehe )
2º: Tem razão
3º: continuo sem saber o porque dela afirmar que não deveriamos nos acostumar ( 'Tipo', ela generaliza Pô ). não fez sentido o início do texto relatando apenas o que nele há de escrito!
( Opinião minha )
4º: segundo o início do texto nós não deveríamos nos acostumar com NADA! =D
5º: Concordo plenamente, o pior é que.. muita gente não faz o mínimo de esforço em relação a mudança ( se tiverem agindo de forma errada ), continuam sendo ignorantes, ou por FALTA de informações ou por serem ignorante mesmo!

entendeu? ;D


é...
eo repeti 2 vezes o 1º item!
desconsidere!

OBS: eo tô criticando a forma de se expressar DELA!

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